Monsaraz

A Vila de Monsaraz

Monsaraz é uma das aldeias mais encantadoras e bem preservadas de Portugal, situada no Alentejo, junto ao grande Lago Alqueva. Com as suas ruas de calçada estreitas, casas caiadas de branco e uma história que remonta à época medieval, este local pitoresco oferece uma verdadeira viagem ao passado.

A vila está cercada por muralhas imponentes que testemunham a sua importância estratégica ao longo dos séculos, servindo de defesa contra invasões. O castelo, construído no século XIII, proporciona vistas deslumbrantes sobre a paisagem alentejana e as águas tranquilas do Alqueva. Além do património arquitetónico, Monsaraz destaca-se pela sua forte ligação à cultura e tradição alentejana, com artesanato típico, gastronomia rica e eventos culturais que mantêm vivas as suas raízes históricas.

História

Monsaraz, devido à sua localização estratégica junto ao rio Guadiana e em terreno elevado, foi habitada desde tempos pré-históricos, como evidenciam os numerosos monumentos megalíticos. Inicialmente um castro pré-histórico, foi romanizado e sucessivamente ocupado por visigodos, árabes, moçárabes e judeus, sendo definitivamente cristianizada no século XIII.

Após a conquista muçulmana da Península Ibérica no século VIII, Monsaraz ficou sob domínio islâmico até ser tomada por Geraldo Sem Pavor em 1167. No entanto, em 1173, regressou ao controlo almóada após a derrota de D. Afonso Henriques em Badajoz. Em 1232, D. Sancho II, com o apoio dos templários, reconquistou-a definitivamente e doou-a à Ordem do Templo, responsável pela defesa e repovoamento.

Durante a ocupação cristã, construíram-se a nova alcáçova e vários templos religiosos, como Santa Maria do Castelo e Santiago. Em 1319, passou a integrar a Ordem de Cristo e iniciou-se a construção do tribunal gótico e da torre de Menagem. Em 1385, foi invadida por tropas castelhanas e recuperada por D. Nuno Álvares Pereira, que a doou ao neto D. Fernando, integrando-a na Casa de Bragança em 1422.

Em 1512, D. Manuel reformou o foral de Monsaraz, regulamentando a vida pública e instituindo a confraria da Misericórdia. Após a Restauração de 1640, foram construídas novas fortificações, transformando a vila numa “cidade inexpugnável”.

Locais a visitar

Cante Alentejano

À entrada da vila, de costas voltadas para o imenso Lago Alqueva, ergue-se um monumento que dá voz à alma do Alentejo: a homenagem ao Cante Alentejano. Mais do que pedra e metal, este tributo carrega a gratidão eterna a todos os Cantadores e a cada Homem e Mulher que, com a sua voz, mantêm vivo o cantar do povo. 

Cisterna

Construída no final da Idade Média, a Cisterna de Monsaraz foi, durante séculos, a salvação da população dentro das muralhas. Aqui, cada gota de chuva era um tesouro. As águas pluviais desciam dos telhados através de caleiras antigas, caindo suavemente pelos gargalos de pedra até preencherem este enorme reservatório subterrâneo.

Mas há mais mistérios nestas paredes… Reza a lenda que, antes da cisterna, aqui existia uma mesquita muçulmana, erguida entre os séculos XI e XII.

Além da sua importância histórica, a cisterna oferece algo mágico para os visitantes: do terraço, desfruta-se de uma vista deslumbrante para o Grande Lago Alqueva. Um cenário perfeito para fotografias que capturam não só a imensidão da paisagem, mas também o espírito intemporal do Alentejo.

Museu do Fresco

Este edifício civil, edificado no segundo quartel do século XIV, durante os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, refletia o desenvolvimento administrativo e económico da vila e serviu também como cadeia da comarca.

A primeira referência documental data de 1362, mas supõe-se que tenha sido construído ainda no reinado de D. Dinis ou do seu sucessor. Entre o final do século XV e o início do XVI, foi ampliado com um segundo piso para albergar a cadeia comarcã. Perdeu as funções camarárias no final do século XVII e sofreu danos significativos com o terramoto de 1755.

A Sala do Tribunal foi decorada no século XV com um fresco único em Portugal, que permaneceu oculto durante séculos atrás de um tabique de tijolo. Apenas em 1958, durante obras de requalificação, foi redescoberto e salvo da destruição.

Esta pintura alegórica representa a justiça terrena, destacando o bom e o mau juiz, evidenciando a isenção e a corrupção humanas. Datada do final do século XV, apresenta na parte superior Cristo em majestade, sobre o globo terrestre com a inscrição UROPA, ladeado por dois profetas exibindo o Alfa e o Ómega, símbolos do Princípio e do Fim.

No painel inferior, figuram o Bom e o Mau Juiz, acompanhados por personagens de um julgamento civil. O Bom Juiz segura a vara reta da justiça com dignidade, enquanto o Mau Juiz tem um duplo rosto e a vara quebrada. Sobre as cadeiras de cada juiz, estão representadas a Misericórdia no juiz íntegro e a perversão, simbolizada pela cabeça de um demónio, no juiz corrupto.

Horário
Verão (abril a setembro) 09h30-12h30 | 14h00-18h00.
Inverno (​outubro a março) 09h30-13h00 | 14h00-17h00

Preço: Casa da Inquisição + Museu do Fresco: 1,00€ (a partir dos 12 anos) 

Igreja de Nossa Senhora da Lagoa

A primitiva igreja gótica é construída na segunda metade do século XIII, sendo a sua referência mais antiga do tempo do rei D. Dinis.

Em virtude da peste negra que assolou a região, a igreja original desaparece no reinado de D. João I, dando azo à construção de uma nova Matriz, uma vez que as reduzidas dimensões do edifício não permitiam o sepultamento da população local.

A construção da atual igreja matriz, da responsabilidade do arquiteto Pêro Gomes, é do século XVI, baseada no estilo renascentista, com três naves apoiadas em quatro colunas toscanas, onde predomina o xisto regional.

O frontão encontra-se decorado com um painel de azulejos e encabeçado por uma Cruz da Ordem de Cristo, representativo de Nossa Senhora da Conceição. O altar-mor, composto por talha dourada, manifesta duas esculturas em madeira que representam Santo Agostinho e Santa Mónica. O seu interior está ornamentado com decorações artísticas dos séculos XVII e XVIII e com oito capelas laterais.

É essencial destacar o túmulo de Gomes Martins Silvestre, primeiro alcaide e povoador de Monsaraz, construído em mármore de Estremoz, cuja face frontal mostra um cortejo fúnebre onde desfilam diversas figuras e no topo uma figura alusiva à atividade do cavaleiro templário.

Horário
Verão (abril a setembro) 09h30-12h30 | 14h-18h
Inverno (​outubro a março) 09h30-13h | 14h-17h

Igreja da Misericórdia

A construção desta igreja remonta ao século XVI, aquando da fundação da Misericórdia, ficando integrada no complexo do antigo Hospital do Espírito Santo.

De arquitetura simples e harmoniosa, apresenta uma estrutura retangular em estilo barroco, ladeada por duas capelas ricamente decoradas com talha dourada do século XVIII. No seu interior, destaca-se a imagem imponente do Senhor Jesus dos Passos, padroeiro de Monsaraz, uma oferta do Duque de Bragança, D. Teodósio II.

Na fachada, o escudo régio esculpido em mármore, datado do reinado de D. José I, adiciona um toque de imponência e história ao edifício.

Para os amantes de história e património, merece ainda destaque o vasto centro documental da Santa Casa da Misericórdia, guardado nas suas dependências anexas e com registos valiosos desde o final do século XVI.

Horário
Verão, 1 de abril a 30 de setembro: 09h30-12h30 | 14h-18h
Inverno, ​1 de outubro a 31 de março: 09h30-13h | 14h -17h30

Igreja de Santiago

De origem remota e data desconhecida, há registos que confirmam a existência desta igreja desde a segunda metade do século XIII. Inicialmente sob a tutela da Ordem de Santiago da Espada e, mais tarde, integrada na Ordem de Cristo, a sua estrutura original perdeu-se ao longo dos séculos, restando apenas uma moldura gótica.

A configuração atual deve-se às obras de reconstrução promovidas durante o reinado de D. José I, após os danos causados pelo terramoto de 1755. Já na década de 1980, a Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz realizou um restauro, preservando este importante património localizado na encosta ocidental da vila, junto às antigas casas de D. Durando Pais, figura medieval da região.

Horário
Verão (abril a setembro): 09h30-12h30 | 14h00-18h00.
Inverno (outubro a março): 09h30-13h00 | 14h00-17h00.

Casa da Inquisição

Este edifício é, segundo a tradição oral, a Casa da Inquisição, cujos relatos a descrevem como local de tortura…

Percorrendo as brancas e inclinadas ruas de Monsaraz, deparamo-nos, para as bandas da alcáçova, ao fundo da Rua de Santiago, com uma casa de dois pisos, com painel azulejado entre duas janelas de cantaria, que a tradição local afirma ter sido um tribunal da inquisição.

Não foi, de certeza, um tribunal da Inquisição, porque o pequeno burgo de Monsaraz nunca possuiu semelhante desígnio e os julgamentos dos crimes dos cristãos-novos montesarenses eram da competência do Santo Ofício de Évora.

Este edifício pode ter servido como alojamento de um familiar do Santo Ofício ou como paragem temporária para acusados a caminho de Évora. No entanto, a presença judaica em Monsaraz remonta a tempos bem anteriores. Já no foral de D. Afonso III, em 1276, há referências à comunidade hebraica, e documentos do reinado de D. Dinis e D. Fernando reforçam a sua importância. Destaca-se Abrão Alfarime, um judeu influente que, em 1382, arrendou direitos régios em Monsaraz e Mourão.

As evidências documentais e arqueológicas confirmam a existência de uma próspera comunidade judaica na vila. A Casa da Inquisição não é só um lugar onde possa confluir essa informação, mas um local gerador de ideias para a interpretação e entendimento da história desta comunicade, enquanto produto e memória. É um elemento dinamizador do concelho e congregador de uma nova dinâmica histórico-cultural. 

Horário
Verão (abril a setembro): 09h30-12h30 | 14h00-18h00.
Inverno (outubro a março): 09h30-13h00 | 14h00-17h00. ​
Encerra à segunda-feira

Preço​: Casa d​​a Inquisição + Museu do Fresco: 1,00€ (a partir dos 12 anos​)

Castelo de Monsaraz

As obras iniciam-se após a Reconquista Cristã e prolongam-se por vários reinados. D. Afonso III, através do cavaleiro Martim Anes, constrói a nova alcáçova, cinco torres quadrangulares, o cubelo e parte da barbacã sul. No reinado de D. Dinis, edificam-se a Torre de Menagem e grande parte da barbacã exterior. D. Fernando acrescenta a cortina interior que separa o alcácer do casario da vila. A muralha da praça de armas é de xisto e cal, com torres, enquanto os panos de alvenaria da vila incluem xisto, granito, barro e cal.

Curiosidade: Por volta de 1830, o castelo de Monsaraz estava em ruína, levando os habitantes a reaproveitar materiais para construir a sua praça de touros, onde desde então se realizam as corridas das Festas do Senhor Jesus dos Passos.